quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Geração Gentileza

"Nós que passamos apressados pelas ruas da cidade merecemos ler as letras e as palavras de Gentileza" (Marisa Monte)

Se você não andou vagando em algum lugar ao Leo da esfera terrestre nesses últimos tempos, muito provavelmente já ouviu ou viu por aí a frase "Gentileza gera gentileza". Seria o princípio da reciprocidade, ou algo do tipo a minha educação depende da sua. Só que na verdade é algo mais.

Em inglês, gentleman significa homem gentil, cavalheiro, suave. Quando ouço falar em gentleman vêm à minha cabeça a imagem de um homem refinado e polido que beija a mão das donezelas e faz uma reverência à elas. Talvez a imagem de um homem que faria loucuras para conquistar o amor de sua amada. Vá lá, isso talvez funcione na literatura infantil e em filmes épicos, pois na vida real é difícil encontrar alguém que seja sempre afável em suas atitudes.

Alguém me disse certa vez que há três expressões capazes de mudar o mundo: com licença, obrigada e por favor. Não que essas palavras tenham alguma utilidade no combate à fome, ao aquecimento global ou às guerras. Mas elas podem ser as palavrinhas mágicas que têm o poder de fazer as relações sociais um pouco menos insuportáveis. Sartre já tinha dito "o inferno são os outros". E, de acordo com um dito homônimo a uma comunidade do Orkut: tá no inferno? Abraça o capeta. Se é assim, então porque não sermos um pouco mais complacentes com aqueles que fazem parte da nossa convivência diária?

Bem diferente dos cavalheiros idealizados por mim, José Datrino é um verdadeiro gentleman cuja vida foi dedicada a espalhar suas mensagens de gentileza e de amor. Seu engajamento começou após a tragédia do Gran Circus Americano em dezembro de 1961. Datrino foi um visionário, um profeta incompreendido durante a sua existência, mas que apesar disso não desistiu de sua causa.


(...)Feito louco
Pelas ruas
Com sua fé
Gentileza
O profeta
E as palavras
Calmamente
Semeando
O amor
À vida
Aos humanos
Bichos
Plantas
Terra
Terra nossa mãe.



O profeta Gentileza, como Datrino foi popularmente conhecido, ficou 35 anos pregando suas palavras e, àqueles que lhe chamavam de louco, respondia: "Sou maluco para te amar e louco para te salvar".

A aparência de Gentileza é a do velhinho barbudo e bondoso que, em meio a uma megalópole do porte do Rio de Janeiro, com toda a violência e caos urbano característicos, conseguiu deixar sua mensagem em letras azuis e em faixas verde-amarelo. Sua obra foi inscrita em 56 pilastras do Viaduto do Caju. As inscrições foram pintadas de cinza e, depois, o projeto Rio com gentileza, recuperou a arte de Datrino.

Não sei pra vocês, mas a sensação que eu tenho é a de que esse início de ano foi meio pesado. Seja com o sentimento de impotência que nos afeta, seja com as fatalidades que nos cercam e algumas coisas que nos indignam, tudo isso corroborou para uma entrada de ano não muito feliz. Acho que talvez por isso resolvi falar sobre algo bom que pudesse ser acrescentado às nossas vidas turbulentas já nesse ano. A gentileza de Datrino e seu legado não devem ser desprezados como mera loucura de um lunático, muito pelo contrário, devem ser aproveitadas na nossa geração, quem sabe uma geração Gentileza?


(...)Sem medo
Insegurança
Medo do futuro
Sem medo
Solidão
Medo da mudança
Sem medo da vida
Sem medo
Das gentileza
Do coração.
(Gonzaguinha)



Beijinhos do gentil ornitorrinco.

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