sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Amor de plástico

Olá, queridos. Volto nesta sexta-feira com mais um assunto que deve agradá-los. Meu cronograma de escrita não vem sendo cumprido. Todos os temas que eu pretendia abordar nas últimas semanas acabaram deixados para mais adiante. O motivo? Além de uma certa falta de tempo, muitas coisas vêm chamando minha atenção nestes últimos tempos. Matérias jornalísticas que valeram a pena ler e que trouxeram à tona alguns aspectos da vida humana hoje. Apreciaremos durante o post trechos de uma música que se adequa ao ponto onde quero chegar.


Her green plastic watering can*
For her fake Chinese rubber plant
In the fake plastic earth.
That she bought from a rubber man
In a town full of rubber plans
To get rid of itself.
It wears her out, it wears her out



Meu tema de hoje é, pois, a substituição. Não, não a substituição de ovo por linhaça em receita de bolo, mas a substituição de alguma forma de afeição humana por algo que se assemelha - assustadoramente, às vezes - e que possa suprir o que falta a muita gente.

Este tema tem duas facetas. Contraditórias - ou nem tanto. Coincidentemente (ou não), vim a conhecer nossos ilustres convidados de hoje por meio de matérias da Revista Marie Claire.

Mas chega de enrolar e vamos logo ao que vim tratar. Vamos começar pelo soft core.





Owwwwwwwwn... Que linda a pequena Sonia dormindo na calma de sua não existência. O que você não sabia até agora é que ela não é de verdade. Ela é um Reborn Baby, criado por uma artista plástica. Incrivelmente real, não? Mas Sonia não é uma peça artística de museu. Ela pertence a alguém, que a trata como filha.

Os artistas que constróem estas verdadeiras obras recebem cada vez mais pedidos. E que pedidos - cada Reborn pode custar entre R$ 1.000 e R$ 5.000, tudo pelo minucioso trabalho de recriar pequenos bebês que não crescem. Muitas mulheres ao redor do mundo "adotam" Reborns - mais de um, até 20 - e os tratam como se fossem seus filhos.

Andar na rua com um Reborn não é algo incomum. A maior parte das pessoas ao redor não nota que não é um bebê de verdade. O famoso episódio em que um policial quebrou o vidro de um carro acreditando estar salvando um bebê desacordado no banco de trás foi causado por um Reborn.


* She lives with a broken man
A cracked polystyrene man

Who just crumbles and burns.

He used to do surgery

For girls in the eighties

But gravity always wins.

And it wears him out, it wears him out.




Agora, a razão que leva tantas mulheres a terem estas criaturinhas, às vezes tçao bizarras, em casa e tratá-las como reais é desconhecida. Alguns alegam ser apenas uma forma lúdica de enfrentar a velhice e o fato de os filhos já estarem crescidos. Não existem conclusões e as opiniões especializadas dividem-se entre os benefícios da fantasia e a regressão emocional causada por falta de afeto.



Reborns me assustam.



Eu realmente acho os Reborn obras de arte magníficas e, a título de coleção eu os considero incríveis, mas acharia muito bizarro se a minha mãe, no lugar de um Poodle (owwwn) tivesse comprado um Reborn.

Para segunda veia do assunto de hoje, temos algo mais delicado, mais mal visto e muito mais caro. A evolução da boneca inflável - as Real Dolls. Também feitas a mão, como os Reborns, mas com atrativos e funcionalidades bastante diferentes, elas foram inventadas por McMullen e produzidas em sua empresa Abyss Creations na California, Estados Unidos.



Modelo de Real Doll.



Elas são a coisa mais avançada que se pode pensar. Incluem os "3 orifícios padrão", removíveis, laváveis e ... esquentáveis, para o prazer de seus donos - além de um corpo feito com silicone que imita o mais próximo possível a sensação de pele. Cada uma pode custar mais de US$6.000. Até aí, tudo que podemos dizer é que é apenas mais uma invenção da indústria do sexo. A coisa que me intriga é o fato de muitos homens tratarem-nas não apenas como bonecas, mas como suas mulheres, a ponto de deixarem totalmente de lado qualquer tentativa de relacionamento com mulheres "orgânicas", como eles se referem.



She looks like the real thing*
She tastes like the real thing
My fake plastic love.

But I can't help the feeling

I could blow through the ceiling

If I just turn and run.

And it wears me out, it wears me out.



Começando do começo, a atração por seres imóveis que imitam a figura humana não é novidade de nossos tempos. Aliás, isso tem um nome: agalmatofilia. Desde a tragédia grega a atração por estátuas vem sendo contada e recontada. Em 1877 o caso de um jardineiro que tentou transar com a Vênus de Milo foi registrado pelo psiquiatra Autro-Húngaro Richard von Krafft-Ebbing.

Como eu disse, até aí tudo bem. A atração sexual por coisas aleatórias é bem conhecida por aí. Fetiches ou parafilias, como a dos Looners (fetiche por balões. Sim, balões), ou a maieusofilia (excitação com a visualização de partos) têm cada vez mais variações.

Por tudo que me compete, nada que não machuque os outros é um problema e eu não estou em posição de julgar os possuidores de Real Dolls ou Reborn Babies. O que me chama a atenção é todo o afeto e carinho dispensado em algo que simplesmente não corresponde. Não que a indiferença não esteja presente entre nós, corpinhos providos de vida e calor próprio, mas estas substituições me levam a pensar que talvez todo o distanciamento que vivemos hoje seja a causa de uma procura tão ávida por seres que não podem nos rejeitar.

As interações tornam-se cada vez mais efêmeras, as relações de confiança se partem em pedacinhos, como um pirulito de caramelo que cai no chão. Tornamo-nos cada vez mais incapacitados emocionalmente, não é mesmo? A precisão do nosso mundo regulado não existe no campo humano e isso nos deixa impotentes. Não podemos suportar uma ação não esperada.

Talvez por isso, uma das relações que a repórter
Meghan Laslocky aponta em sua matéria vencedora do Clay Felker Award, "Real Dolls: Love in the Age of Silicone", entre outras, seja com o autismo. O autista não suporta não saber o que vem pela frente. Seu mundo é calculado e a menor mudança pode deixá-lo em pânico.

Reborns não morrem, não adoecem, não nascem feios (a menos que você queira), não te deixam acordado a noite. Com eles você não tem que correr pro médico, não tem que lavar a roupa. Não precisa ficar ouvindo a sua mãe te dizendo como criar seu próprio Reborn. Você não precisa ser uma mãe perfeita. E o mais importante, eles não crescem. Eles nunca vão entrar na puberdade e te dizer que te odeiam. Eles não te abandonam.

Real Dolls, por sua vez, não reclamam dos seus hábitos irritantes, da toalha molhada em cima da cama, dos amigos, do futebol na tevê. Elas sempre te escutam, sempre querem sexo - e sempre do jeito que você gosta. Com elas não há perigo de se fazer algo errado, não há a necessidade de cumprir o papel que se espera de você. E elas não te trocam por um cara mais rico, mais bonito e mais novo. Elas não te abandonam.

Na internet, 'mamães' de Reborns exibem seus bebês em poses montadas e roupas variadas. 'Namorados' de Real dolls exibem suas amadas em fóruns e se caracterizam como um movimento organizado. A revista Coverdoll tem sua versão online e é totalmente voltada para amantes de Real Dolls. "Perfis" de Real Dolls são publicados lá. Os donos criam um personagem e agem como se ele fosse real. Zara tem seu próprio perfil, publicado na edição de Novembro deste ano.


Zara é a garota da capa da Coverdoll de Novembro.


Além de achar este tema muito interessante e simplesmente querer ler mais e mais (e escrever, porque tinha muito mais o que dizer), proponho as seguintes questões: até onde vai o limite da nossa noção de realidade? Quando começamos a perder a conexão com o mundo? Afinal, não são os outros humanos quenos tornam humanos? Quanto tempo vai demorar até que vejamos famílias falsas inteiras - mãe Reall Doll, baby Reborn / pai Real Doll (sim, existem as versões masculina e até she male), baby Reborn)? Por que procuramos afeto em objetos sintéticos? Se tantos procuram afeto, porque não se consolam uns aos outros? Que medo é este que temos de nós mesmos? E, por fim, a que isto nos leva?

Não acredito que o ato de ter uma Real Doll ou um Reborn em si seja nocivo. Aliás, vejo mais com um sintoma. Não de falha emocional e social individual, mas algo que vem chegando como uma onda a todos nós. Perder a capacidade humana de se relacionar e de lidar com os sentimentos talvez comprometa todas as áreas de nossas vidas. A coisificação do ser humano, que se obriga a ficar fechado dentro de si.

Talvez estejamos no caminho de nos tornarmos cada vez mais parecidos com RealDolls e Reborns. Cada vez mais sintéticos e fechados. Passivos e submissos.


*And if I could be who you wanted
If I could be who you wanted

All the time, all the time.




Bem, chego ao fim deste post. Desculpem pelo texto atravancado, algo não anda bem nas minhas sinapses. Deve ser o calor.

Fantasia é aprovada pelo canguru. Um mundo de plástico é temido por ele.

Fiquem com mais uma música que ilustra muito bem o nosso assunto de hoje. Procurem a letra, ela é medonha e poderia ser cantada por uma Real Doll (se elas cantassem).








Beijos e até a próxima (prometo que melhoro a escrita)! Não se esqueçam de comentar! :D


* Trechos da música Fake Plastic Trees do Radiohead.
Tristeza reflexiva só pra você.

5 comentários:

Gabriela Loureiro disse...

Cara Paolla,

Eis um belo post.Honestamente,o único post do blog que eu considerei realmente interessante.Não que existam problemas na escrita ou nos assuntos do blog,é apenas uma questão de interesse próprio.
A plasticidade das relações e o distanciamento das pessoas também me assusta e tu abordou o tema em um tom reflexivo legal,tornando o texto pertinente e atrativo.
Ótimo ter descoberto essa matéria das real dolls tb.
Enfim,esqueci como eu ia terminar esse comentário.Foda-se,fica assim mesmo :]

Maiara Alvarez disse...

poodle, poodle... não esqueci de você, não (exlicando o comentário atrasado), é que essa internet aqui de Cande tinha que dar alguns probleminhas...

bom, acho o trabalho dos Reborns magnífico no que se compara a capacidade e possibilidade de representar o real (no sentido artístico), mas realmente me assussto com a capacidade de alguém se "relacionar" com algo feito de matéria sintética. Falo relacionar no sentido da troca em via única de afeto. É claro que já vinhamos fazendo isso desde os primórdios, desde a primeira boneca. Quem aqui não ficou triste por estragar algum brinquedo? Porém, quanto mais a proximidade com o ser humano, mais essa capacidade de sentir afeto por algo que não respira (não tem intestino, não tem bexiga, não tem estômago) me apavora, pois parece que é como uma lei "quanto mais parecido com um humano for algo, maior a possibilidade de este algo servir como substituição de um ser humano".

E sobre as Real Dolls? Depois que descobri que pessoas são capazes de "f#%$*" uma caixa de pizza, acho difícil que algo mais me surpreenda. Se elas (ou eles) servem como brinquedinho sexual de alguém até dá pra imaginar, mas serem tratadas como mulheres? Assim fica fácil, elas não vão estourar o cartão de crédito, não vão ficar de tpm, não vão ter celulite, não vão ter filhos, nao vão ganhar mais dinheiro que vc... Também não vão te surpreender ao te esperar de camisola nova, com um quarto enfeitado, depois de um dia chato de trabalho... Até entendo a necessidade sexual (de estravasar os hormônios mesmo), mas como se pode sentir tesão por algo que não vai sentir prazer? Aliás, que não vai sentir nada?

Acabo por aqui, ou vou escrever mais umas 50 linhas. Amo a música "Fake plastic tree". Aliás, foi um ótimo recurso de leitura, pq o Petit abriu o blog e disse: Ah, muito grande o texto. Daí ele reconheceu a música (que ele também adora)... Eu fui buscar algo na cozinha e quando voltei ele já estava no final do teu post (esses meninos, tinha que gravar o que eles falam e o que acabam fazendo...)

Beijinhos

Anônimo disse...

Se tiverem tempo dêem uma olhada nisso:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Chobits

"Hideki Motosuwa é um rapaz do século XXI que muda-se para Tóquio para estudar e tentar conseguir entrar na Universidade de Tóquio, uma vez que vivia numa fazenda em Hokkaido. Ao chegar a Tóquio vê-se envolvido em um mundo da mais avançada tecnologia: os persocons. Persocons (de Personal Computer) são robôs de "estimação" no universo da Chobits. Podem ser portáteis ou humanos. Através deles, é possível acessar a internet e ler e mandar e-mails, utilidades domésticas e outra mais. Para que os persocoms façam as coisas (como cozinhar ou fazer compras), é necessário a instalção de um software específico. Caso o usuário não tenha dinheiro, a instalação de um software de aprendizado é uma solução, porém, é preciso ensinar o persocon a fazer as coisas."

Anônimo disse...

dnd, jdzhd fi dqwkzaej u gywfz.
xpsj mqfoplhf k ms w!
nwt free adult clips
, wpar vu do x vbet p.
rffiop fhrszl jnfs b covn. iwe, spank tube
, ondy z mmxnoqoy x ywqopz zv eguq ovn.

duk kh fqy.

Anônimo disse...


Marseilles 2
Paris of Xinhua News Agency on September 21 sports special telegram (the reporter is comfortable) team of Marseilles of runner-up of the sports season on the law armour league matches [url=http://newjordansforsale.yolasite.com/]cheap jordans[/url] by mat of name of this in front of 21 days of evening with 2: 0 conquer is weak brigade dust dimension installs a line, first league matches that greeted this sports season wins, the rank rises reach the 15th, however team advocate Shuai Deshang is accepted after contest when media is interviewed still not dare small talk is loosened. France " the team signs up for " heart of 22 days of cite still if say, the victory is potion fine medicine, can make team heavy pick up self-confidence, at present inside Marseilles team all-time solidarity, everybody wants to do a few businesses more for team together, help team walks out of predicament at an early date. Heart still say, first victory of league matches makes the rank of this team rises somewhat, but the way in front is very long still, cannot loosen vigilance absolutely, still need to continue to maintain victorious momentum, win integral hard, promote league matches the place. Amaerfeidanuo of Marseilles club chairman also is after contest emphasize, the match wins victory and the support of fan is the different thing with indispensable team, the awkward condition that breaks away from league matches to pay a copy lets person hearten really, but team won't be loosened, still will continue to fight. (be over) 2011/09/22 16:33 Recommend related the article 2-0 of Chinese female women football gets the better of Korea country sufficient 3 than 0 get the better of Korea country sufficient 1:0Get the better of France heart of the Xin in Shang Shijia of numerous numerous heart still Lai of Lai of mark of _ De Shanghe. . .
Fan Texi surpasses the line on the activity after basketball hassle season | Sport one ball becomes famous dazzle eye storm will raid